RESUMOS

ABEL DE LACERDA BOTELHO «António Quadros e a Paideia Lusa»
 
“Paideia” significava – originária e primariamente - “criação de meninos” “ensinar meninos” “educar jovens”. Platão definiu Paideia desta forma: “A essência de toda a verdadeira educação, ou Paideia, é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito, e o ensina a obedecer e a mandar, tendo a Justiça como fundamento”. António Quadros rememora: “Uma paideia, ao modo grego, é a solidariedade e a univocidade entre a estrutura cultural, e o sistema educativo do seu povo, ambos se ordenando a um “telos” ou a um fim superior, que todos então sentem como seu, pelo qual vivem, lutam e se sacrificam se necessário for” e incentivou: “Devemos ter em vista a criação de uma paideia portuguesa no futuro, dinâmica, unívoca e resolutora ou transcensora das nossas aporias, cisões e contradições históricas, paradigma de um espaço particular aberto para a realização universal dos valores”. Hoje, considerando como PAIDEIA, - a Cultura e a Civilização de um Povo, - vemos que a “Paideia Lusa” não é melhor nem pior que a de qualquer outro Povo. Ela é porém diferente, aliás como diferente é a Língua que se usa para a exprimir e que dela faz parte. E é nessa diferença que está a sua universalidade, a sua força, e o seu esplendor. A “Paideia Lusa” é pois diferente de todas as outras “paideias” neste momento vivenciadas por todos os outros povos, pois além de nela – como nas outras – se “ensinar as crianças” a SER homens, e a serem bons cidadãos, ela ensina mais:
Ela ensina a
SER no ESTAR
Sem nele FICAR


AFONSO ROCHA «Razão e Mistério – uma Leitura Comparada entre Sampaio Bruno e António Quadros»
Com esta Comunicação, visa-se identificar e comparar o sentido que a expressão “Razão e Mistério” consubstancia no pensamento de António Quadros e de Sampaio (Bruno), concluindo-se de tal estudo que a expressão é usada em acepção diversa pelos dois autores. Assim, enquanto, em Quadros, a “Razão” não só é submetida à Revelação e à Fé, como reveste no seu pensamento uma acepção escolástico-tradicional, em Bruno, diversamente, a “Razão” é subsumida numa acepção gnóstico-moderna, consubstanciando em consequência uma entidade que é autónoma e imprescindível a todo o Conhecimento, incluído o religioso-teológico. Por sua vez, enquanto, segundo Quadros, a presença e a revelação de Deus se manifestam no “Espírito” que actua na história de forma imanente e/ou esotérica, entendendo-se em consequência o “Mistério” como “destino” de Portugal, consubstanciado no Império do “divino Espírito Santo”, para Bruno, diversamente, o “Mistério” é afirmado e/ou professado segundo pressupostos místico-metafísicos, entendendo-se em consequência a sua essência, quer em termos de “transcendentalidade intermédia”, quer em termos de “transcendência absoluta”, quer em termos de “espírito” messiânico que, através do “progresso” histórico e da “regeneração” do homem, “reintegra” o cosmos no Absoluto.


ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO «A Poética de António Quadros»

1 Ponto de partida: os dois livros de contos de A. Quadros.
2 A estética dos contos: o Eu real e o Eu simbólico.
3 Alguns exemplos.
4 A noção de Conto no pensamento de António Quadros.

5 A poética do maravilhoso, os estados anormais (sonho, loucura, amor-paixão) e as situações que revelam o Eu sublime.
6 Outros exemplos: da prosa ao verso.
7 Algumas conclusões provisórias sobre o supra-realismo de António Quadros.



ANTÓNIO CARLOS CARVALHO «Deus e os Homens - Interrogação à História»

Tendo vivido num século e numa época de profundas transformações históricas, tanto nacionais como mundiais, António Quadros, discípulo de Álvaro Ribeiro e herdeiro fiel dos outros nomes maiores da Filosofia Portuguesa - mas também contemporâneo de Dalila Pereira da Costa e António Telmo, com quem compartilha visões dos problemas -, interrogou o sentido da História portuguesa e universal em várias das suas obras fundamentais: «Introdução à Filosofia da História», «A Arte de Continuar Português», «Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista» e os dois volumes de «Portugal, Razão e Mistério». Esta última constitui uma referência fundamental para pensarmos hoje o destino do nosso País.



CARLOS H. DO C. SILVA «O LUGAR DO INTEMPORAL - A propósito de António Quadros, Pensador do Mito da História»

In memoriam deste insigne cultor de Portugal

Indagando-se as estruturas estruturantes do tópos da própria noção de história, como “tempo situado”, salienta-se o âmbito da reflexão de António Quadros, na pretensão da sua perspectiva teleológica portuguesa e espiritual, como horizonte último de compreensão filosófica da História. Considerando sobretudo a sua Introdução à Filosofia da História, em conjugação com outros seus estudos, sublinha-se o carácter orgânico e finalista da sua interpretação do histórico ponderado existencialmente a partir do destino e alma pensante do ser português. Num segundo momento, a partir de nossas interpelações sobre o tempo histórico e suas instâncias próprias, interroga-se a posição de António Quadros salientando o valor do seu pensamento sobre o mito da História, mas também as limitações quanto às dimensões da intemporalidade assim equacionada.


GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS «António Quadros – Intérprete do Portugal Moderno»

Conhecedor das raízes históricas portuguesas e de um pensamento que fundamentou o «humanismo universalista» que caracterizou a afirmação da nossa identidade pelas «sete partidas», António Quadros centra-se criticamente no século XX e nos «modernismos» do «Orpheu» e da «Presença» para procurar elementos de continuidade e descontinuidade, de diálogo e de inclusão, numa lógica de uma hospitalidade plural. Fora da ideia de fechamento, há, assim, uma noção nova de diálogo, de intercâmbio e de incorporação – que permite ir da Quinto Império de Vieira, segundo a «Clavis Prophetarum» até Pessoa e Almada Negreiros, mas também a Amadeo, a Régio, até aos existencialistas e aos surrealistas. O Portugal Moderno chega à heterodoxia de Eduardo Lourenço, num caminho integrador das tradições diferentes e complementares de Antero e de Pessoa.


JOAQUIM DOMINGUES «António Quadros, Filósofo do Movimento»

O Movimento do Homem foi o título escolhido por António Quadros para o livro onde, aos quarenta anos, em 1963, apresentou “uma primeira aproximação, existencial, simbólica, histórica e ideológica da teoria do movimento”. Esclarecia, porém, não pretender “reivindicar originalidade e ineditismo”; pois, não estando separado, se firmava na tradição, recorrendo “a ideias, a símbolos, à própria língua que falamos e que escrevemos”. Ao considerar o itinerário assim enunciado “empresa para uma vida inteira”, como de facto foi, ofereceu-nos uma chave privilegiada para descobrir as linhas de coerência de uma obra que, pela amplitude, seriedade e altura, constitui uma das melhores expressões da cultura portuguesa no século XX.



JOÃO BIGOTTE CHORÃO «António Quadros, Crítico Literário»

ANTÓNIO QUADROS iniciou, em 1947, uma actividade literária que se multiplicou em títulos e temas, com Modernos de ontem e de hoje, colectânea de textos sobre autores os mais diversos. Publicados inicialmente em jornais, esses textos participam do que se chama jornalismo literário. Divulgação de escritores então ainda mal conhecidos, esses artigos têm um carácter eminentemente subjectivo, em que o crítico não oculta aquilo de que gosta e não gosta. Não se respirava naquele ano o clima da nova crítica, que não admitiria o primado da primeira pessoa e que, de tão objectiva, se cria uma linguagem científica. Depois de falar da literatura dos outros, fez António Quadros a sua própria literatura, sobretudo na área da ficção. Publicou mesmo um romance, Uma frescura de asas, em que recupera o papel da personagem, aqui uma figura da vida real e cultural – Sampaio Bruno. Lisboa povoa também o imaginário de António Quadros, que procurou decifrar o “enigma” da cidade num ensaio de índole estática.


JORGE CROCE RIVERA «Ser e Estar, Ter e Haver, Fazer: Espírito, Língua e Cultura no Pensamento de António Quadros»

A comunicação, centrada na consideração de um breve ensaio, “O Espírito e da Cultura Portuguesa” (1967), visa descortinar na reflexão sobre as relações entre os verbos “ser, estar, haver, ter e fazer”, nas quais António Quadros reconhece virtualidades especulativas específicas da Língua Portuguesa, o nódulo teorético-hermenêutico a partir do qual se dá a intrínseca inteligibilidade do pensamento de António Quadros. Esse nódulo não se constitui como selecção arbitrária, agregação amorfa ou sequência inerte de termos genéricos, mas como uma “idealidade” vital, instauração dinâmica, diferenciada e tensional de relações simultaneamente ontológicas e antropológicas, pela qual o pensamento de Quadros definiu um quadro axiológico, uma cosmovisão e uma pragmática para a cultura portuguesa.




JORGE TEIXEIRA DA CUNHA «A Intuição e o Conceito do Divino em António Quadros»

A intervenção terá dois momentos. Primeiramente, aquele em que se procurará caracterizar a intuição do divino na obra do Autor, percorrendo, sucessivamente, a experiência mística, a criação poética e a reflexão filosófica enquanto lugares de emergência da realidade transcendente. Em segundo lugar, procuraremos clarificar racionalmente esta intuição. À procura de uma descrição e de uma identidade para o divino. Antevemos como marcante o caminho pneumatológico para uma definição (impossível) de Deus, tendo em conta a índole joaquimita e franciscana do pensamento português. A exposição será ainda preocupada com a demonstração das raízes judaico-cristãs do conceito de Deus de António Quadros e do seu eventual parentesco com o pensamento gnóstico.


JOSÉ ALMEIDA «A Procura da Verdade Oculta: António Quadros e o Pensamento Esotérico de Fernando Pessoa»

Não obstante a produção seminal de Jorge Sena entre os anos 1950 e 1960 subordinada ao pensamento esotérico pessoano, foram Dalila L. Pereira da Costa, Yvette K. Centeno e António Quadros que acabariam por revelar-se os primeiros hermeneutas a dissecar, à luz de um redescoberto paradigma antropológico-espiritual, esse aspecto chave e bastante particular do heterodoxo multi-universo de Fernando Pessoa. Partindo deste postulado, procurar-se-á mostrar o pioneirismo da leitura e sistematização do esoterismo pessoano legado por António Quadros, destacando-se o seu contributo para a integração e projecção do nosso poeta-filósofo num plano internacional, lado a lado com alguns dos mais importantes autores e pensadores ocidentais dos últimos 100 anos.

 

JOSÉ ANTUNES DE SOUSA «António Quadros: cultura e desocultação»

António Quadros postula, aquém da polissemia situada da literatura, a essencialidade singular do ser português, reconhecendo a esse pathos nacional uma radicalidade ontológica à prova de quaisquer vicissitudes histórico-literárias. À História e à Literatura vê-as apenas à luz de uma instrumentalidade desveladora, desocultante de uma realidade transcendente, de modo que a literatura tenha que vincular-se a um destino mítico, sob pena de se constituir em veículo anti-demiúrgico, isto é, de dissolução da própria tessitura da Pátria. Neste sentido a saudade não reflete tanto um modo de sentir, como é uma modalidade única de ser, adquirindo um valor ontológico. A cultura, a partir desta constitutiva organicidade metafísica, é o processo de manifestação arquetípica no tempo, de significativa desocultação da sua essência mistérica. E é nesta força irruptiva do mistério pátrio na história que acontece o adequado, dir-se-á, providencial antídoto para a ameaça de degenerescência e extinção. E, num tempo de crise como o que vivemos, é bem oportuno este alento que nos vem, assim, do Alto – a esperança de sobrevivermos à «espuma dos dias»!

 
JOSÉ CARLOS FRANCISCO PEREIRA «A Dimensão Estética no Pensamento de António Quadros»

Havendo, segundo A. Quadros, um movimento da biosfera para a noosfera, a partir da articulação entre o movimento histórico e o movimento intuitivo, a arte surge como meio privilegiado para suprir a carência do visível. Neste contexto, e em simultâneo como a dimensão especulativa, a dimensão simbólica, da qual a arte se reveste, surge como aparição do movimento humano, no seu trajecto do natural para o sobrenatural.


JOSÉ PEDRO CABRERA «A Educação que o Futuro Espera»

A ideia de que a educação é a chave do futuro e, nesse sentido, uma questão central da sociedade, é comummente aceite e repetida. Seja qual for a perspectiva em que esta ideia é tomada, ela pressupõe a projecção de um futuro. Um futuro para o qual educação prepara, mas também um futuro a que a educação se obriga.
Para António Quadros, a educação era, como afirmou desde a década de 1950, “a questão crucial da sua geração”, porque nela se jogava a reassunção da identidade pátria, e com ela, a de uma “razão de ser” e de um “sentido de missão” individuais e colectivos projectados no futuro concebido como um “destino a cumprir” inscrito no “movimento espiralar” da história universal.
Testemunho datado de uma visão messiânica que já pouco diz a um país que parece ter-se projectado na “normalização” entre as nações europeias? Visão passadista da educação, por contraste com a ordenação dos sistemas educativos aos desafios actuais do desenvolvimento, da competitividade e da internacionalização? Ou é ainda, a de António Quadros, uma voz apenas momentaneamente pouco ouvida que fala do futuro que espera?


LUÍSA LEAL DE FARIA «A Universidade em Crise: uma Questão Cultural»

Na década de cinquenta António Quadros publicou um conjunto de artigos sobre a questão da Universidade em Portugal, incidindo principalmente sobre a situação das Faculdades de Letras que, em seu entender, não estavam a cumprir a missão que deveriam desempenhar. Enraizando esta questão numa “problemática concreta da cultura portuguesa”, o autor irá produzir uma poderosa denúncia da situação da intelligentsia portuguesa sua contemporânea e, ao mesmo tempo, propor soluções para inverter o sentido de declínio que observava na filosofia, nas artes e nas práticas sociais, ou seja, na cultura portuguesa. O seu projecto para a renovação da universidade em Portugal está intimamente ligado ao seu conceito de cultura e a um sentimento nacional e patriótico que procura examinar e promover a originalidade e especificidade da cultura portuguesa. O presente estudo irá debruçar-se sobre as principais linhas de argumentação de António Quadros, e situá-las num contexto mais alargado, proveniente tanto de alguns traços do pensamento de autores anteriores que o inspiraram, como de um conjunto de pensadores internacionais que procuraram, também, definir para a Universidade uma missão, em tempos de crise cultural.


MANUEL FERREIRA PATRÍCIO «Linhas de Força de uma Antropagogia Situada na Obra de António Quadros»

O horizonte mais amplo a pensar pode dizer-se que engloba o que poderá ser compreendido como o visionamento de uma ontologia de Portugal, em enlace íntimo com uma ontagogia de Portugal, projecto perene de desejo e vontade de realização, de cumprimento do ser de Portugal. O primeiro passo reflexivo a dar será o que se alça para apresentar, iluminar e justificar o conceito de antropagogia situada, visivelmente ligado ao conceito de antropologia situada, tão caro a António Quadros - na senda de Leonardo Coimbra, de José Marinho, de Delfim Santos e de Álvaro Ribeiro, e a par da filosofia da circunstância (e da situação...) de José Ortega y Gasset e de Julián Marías. Desse passo se avançará para outro, o do delineamento geral da teleonomia/teleologia que habita a vasta e diversificada obra de António Quadros, à qual confere unidade uma poderosa vocação antropagógica portuguesa e universal. Procurar-se-á concluir, num último passo, evidenciando os vectores estruturais e estruturantes - ou linhas de força - da construção antropagógica congruentemente realizada por António Quadros, num esforço pensante persistente e infatigável.


MANUEL GAMA «António Quadros e o “57 – Movimento de Cultura Portuguesa”» 

O «57 – Movimento de Cultura Portuguesa», que teve o seu órgão próprio, o jornal 57 – editado entre 1957 e 1962 –, foi a mais bem conseguida manifestação geracional do movimento da «Filosofia Portuguesa». António Quadros foi a alma e o pulmão deste movimento e, ao mesmo tempo, o criador do conceito de patriosofia, que traduz a ideia mestra do ideário do «57». 


MARIA DE LOURDES SIRGADO GANHO «António Quadros, Leitor de Albert Camus» 

Tendo em consideração que António Quadros foi o tradutor da obra de Albert Camus O Estrangeiro, bem como de Os Justos e os Cadernos II, tendo feito um prefácio a estas duas últimas obras, a comunicação que apresentamos visa por em evidência a compreensão, bem como as perplexidades de António Quadros frente ao penar existencial de Albert Camus, que considerou um humanista. Assim sendo, numa atitude hermenêutica, procurar-se-á identificar aproximações e diferenças, entre estes dois pensadores, tendo como referência os textos acima mencionados.
Palavras Chave: Absurdo – Revolta – Humanismo – Existencialismo. 


MARTA MENDONÇA «António Quadros e a Crítica ao Existencialismo» 

A aproximação de António Quadros ao existencialismo foi apaixonada, mas não foi incondicional. O entusiasmo experimentado nunca correspondeu a uma completa identificação com as teses da fenomenologia e do existencialismo. Coincidiam – acaba por reconhecer – mais no que rejeitavam do que naquilo que positivamente propunham. Referindo-se à análise existencial, escreve em 1959: “quis-me parecer logo de início, quando principiei a ler obras de Sartre ou de Jaspers, que tal análise, para ser rigorosa, consequente e necessária, não podia deter-se na situação demasiado restrita do indivíduo” (cf. “A cultura portuguesa perante o existencialismo”, p. 25). Esta reserva inicial adquirirá contornos de verdadeira crítica nos anos seguintes. Em 1971 refere-se ao existencialismo como o “movimento, do qual me afastei com a maturidade” (cf. Ficcão e Espírito, p. 179). O objectivo da comunicação é explorar a relação de António Quadros com o existencialismo. Por que razão este movimento, inicialmente experimentado como uma ‘atmosfera’ onde a filosofia podia de novo ganhar vida, pôde depois ser visto como uma filosofia cujas soluções “estavam longe de ser satisfatórias para o meu espírito” (cf. ibidem, p. 188)?


MIGUEL REAL «A Exegese do Sebastianismo em António Quadros»

Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, de António Quadros, publicado em dois volumes em 1982 e 1983 e num volume só, em segunda edição, em 2001, constitui um dos mais importantes livros sobre o Sebastianismo publicados em Portugal na segunda metade do século XX.  Dotado de uma vertente historiográfica, perfazendo o deve e o haver do Sebastianismo em Portugal e no Brasil desde as Trovas do Bandarra a Jorge de Sena e Natália Correia, em Portugal, e a Ariano Suassuna, no Brasil, António Quadros, ao modo de Fernando Pessoa, defende a existência do mito sebastianista como a actualização estritamente nacional do messianismo escatológico judaico e do "encarnacionismo" cristão cruzados com a substância mental do mito e a tradição céltico-bretã. De certo modo, D. Sebastião é encarado por António Quadros segundo as categorias religiosas de Cristo, mas um "Cristo" bem português.



NUNO JÚDICE «António Quadros e o Modernismo»

António Quadros vê o Modernismo como uma síntese da inovação e da tradição. O seu olhar contempla um grupo que se afirma a partir de uma pluralidade estética e ideológica, em que cada personalidade faz parte de uma visão coerente da transformação estética que tem lugar nas primeiras décadas do século XX.


PAULO BORGES «Portugal e "o Projecto Áureo de Realização da Humanidade" em António Quadros»

Procuramos reflectir criticamente sobre as ambivalências da visão de António Quadros a respeito do compromisso de Portugal num "projecto áureo de realização da humanidade", no contexto mais amplo das ambivalências do pensamento profético-messiânico português.
 


PEDRO VISTAS «Saudade e Futuro em António Quadros»
O tema da Saudade será explorado na sua relação tensiva com o passado e com o futuro, equacionando-se ainda quais as condições para uma sua efectiva experiência no presente. Enquanto expressão sentimental do mito, porém, a Saudade requer em António Quadros uma avaliação complexa que possibilita uma apreciação unitária da obra, conduzindo a considerar a identidade essencial portuguesa, o seu reconhecimento patriosófico através de uma metodologia arqueológica, a leitura de ciclos epocais paradigmáticos, a perspectiva de decadência civilizacional, ou a proposta de uma reactualização da pedagogia teleológica futurante. Da panorâmica resultante, propõe-se uma reflexão sobre a pertinência actual deste pensamento.


RENATO EPIFÂNIO  «António Quadros – A Filosofia Portuguesa e a Tradição Joaquimita: em Diálogo com Agostinho da Silva e José Marinho»

Partindo da reflexão de António Quadros sobre a relação entre Filosofia, Língua, História e Cultura, que o leva a afirmar uma “Filosofia Portuguesa”, procuraremos estabelecer um diálogo com Agostinho da Silva e José Marinho a respeito, em particular, da presença do pensamento de Joaquim de Flora na nossa tradição filosófico-cultural.


RODRIGO SOBRAL CUNHA «Filosofia da Paisagem na Obra de António Quadros»


Contém a obra de António Quadros, implícita, uma singular filosofia da paisagem decorrente da perspectiva do barroco atlântico de que foi exímio hermeneuta. Procuramos esboçar uma tal filosofia da paisagem, que antecedeu de longe a concepção pictórica da paisagem que se viria a definir na Europa até à actualidade.


RUI LOPO «Os Debates e Controvérsias Literárias de António Quadros»

Este estudo tem como objectivo esclarecer as tomadas de posição de António Quadros sobre literatura portuguesa, sobre teoria da literatura e sobre movimentos e grupos literários portugueses, surgidos na segunda metade do Século XX ou nesse período validados como significativos. Quadros afirma-se como um incansável propugnador da irredutível singularidade das culturas nacionais e, nesse sentido, também como um defensor da originalidade da cultura portuguesa. Pretende demonstrar-se como o exercício da crítica literária do autor e, consequentemente, os debates e controvérsias literárias em que o autor se viu implicado dependem desta motivação fundamental.

 
SAMUEL DIMAS «A Distinção entre o Tempo Mítico Grego (Angústia da Tragédia) e o Tempo Histórico Judaico-Cristão (Esperança Bíblica) no Pensamento Escatológico de António Quadros»

António Quadros considera que a realidade encerra um movimento cósmico providencial em que a actividade humana tende para um fim superior de escatológica redenção universal. Este movimento teleológico, que assume a presença do divino no interior do seu devir, não é o de um telos circular de curso e recurso perpétuo e predeterminado, tal como se concebe na tragédia do tempo mítico ritualizado. O verdadeiro movimento do homem é o do tempo histórico bíblico, que é irrepetível e acíclico e cujo princípio e fim se configuram na relação dinâmica e progressiva da liberdade humana com a liberdade divina no desígnio misterioso do plano redentor.


SOFIA A. CARVALHO «Mito, Utopia e Ucronia: Leituras de António Quadros e Eudoro de Sousa» 

A discussão interseccionada, ainda que heterodoxa e antitética, entre o pensador “solitário-solidário” da realidade movente e da sua metamorfose, António Quadros [1923-1993], e o filólogo helenista, cujas relações axiomáticas e intuitivas com o pensamento português se revêem, por exemplo, num seu contributo para a Revista Espiral, Eudoro de Sousa [1911-1987], permitirá aclarar a realidade abscôndita, simultaneamente, ablutiva e sacrificial, dos mitos e dos arquétipos no corpo simbólico da atividade humana. É assim que, da exegese arquio-cosmogónica da intemporalidade, quer pela aparição especulativa, quer pela aparição simbólica do movimento, se propõe uma abordagem estético-metafísica da força, não poucas vezes, anquilosante da utopia e da ucronia, bem como da distinção entre “filomitia” e “mitosofia”, ressalvando, na simbologia da espiral, o combate à insulação dos homens e da vida em esquemas áridos, mecanizados e estáticos e, ao invés, acentuando a apologética escatológico-teleológica do triplo movimento da revelação do Espírito.



TERESA SERUYA «António Quadros, Tradutor»

Neste breve estudo pretende-se dar a conhecer uma faceta menos divulgada da actividade de António Quadros: as suas traduções de autores franceses do século XX. Quadros traduziu Camus, Duhamel, Cocteau e Maurois. Propor-se-á um contexto para tais traduções que abrangem o período entre os anos 40 e os anos 60 do século XX, embora a tradução de O estrangeiro tenha sido reeditada praticamente até aos nossos dias. Na medida do possível tentar-se-á analisar as próprias traduções em confronto com os originais, quando existentes em bibliotecas de Lisboa ou no espólio, de modo a poder identificar as opções tradutórias de Quadros, em confronto com as ideias dominantes sobre tradução daquele tempo. Por fim tentar-se-á também avaliar a incursão de Quadros na tradução para o palco.